Se existe um símbolo perfeito da contradição ambiental brasileira, ele atende por um nome importado: eucalipto. E não é por acaso que cresce como incêndio sobre terrenos que já sofreram demais. O discurso oficial tenta suavizar. Dizem que tudo depende. Depende da técnica, depende do local, depende da intenção. Mas o que realmente depende é a paciência de quem observa o estrago silencioso que se expande diante dos nossos olhos.
A propaganda do setor é sedutora: árvores que crescem rápido, capturam carbono, reabilitam áreas degradadas, precisam de poucos agrotóxicos e impulsionam a economia. Parece o pacote perfeito — se não fosse a parte que eles evitam comentar. Porque o eucalipto, assim como o pínus, carrega na bagagem um impacto ambiental que não cabe no folder promocional.
Onde ele entra, o que existia antes desaparece. Fauna? Expulsa. Flora nativa? Sufocada. Água? Em muitos casos, consumida numa velocidade que assusta comunidades inteiras. É um ecossistema empobrecido, homogêneo, incapaz de oferecer os serviços ambientais que só a complexidade da natureza brasileira consegue garantir.
Mas o verdadeiro escândalo começou quando o setor ganhou novos presentes políticos: um plano nacional robusto e uma lei que remove as plantações da lista de atividades potencialmente poluidoras. De uma canetada, a fiscalização caiu, a burocracia evaporou e as empresas avançaram com a confiança de quem sabe que o governo abriu caminho.
Enquanto isso, pesquisadores tentam explicar que chamar essas plantações de “florestas” é quase uma piada. Floresta tem diversidade. Floresta respira vida. Floresta abriga inúmeras espécies. Eucalipto, não. Eucalipto é produção, lucro, escala industrial. É monocultura travestida de verde.
Ainda assim, há quem defenda sua função ecológica: criação de corredores para animais, alívio da pressão sobre florestas nativas, ocupação de pastos degradados. Argumentos que, embora tecnicamente possíveis, ignoram o efeito cascata da substituição permanente de biomas inteiros por espécies exóticas.
O Brasil segue repetindo um erro histórico: confundir produtividade com sustentabilidade. O eucalipto cresce rápido, sim — mas também cresce rápido o prejuízo ambiental escondido sob sua copa aparentemente ordeira.
O futuro cobra. E o país precisa decidir se quer sombra de verdade ou uma floresta de mentira.
Por Redação.
